Cátia Barbosa
PME têxteis tiveram melhor desempenho durante a crise do que as grandes empresas
Um estudo realizado na Universidade do Minho por Ana Marta Abreu mostra que as PME do setor têxtil conseguem uma melhor performance financeira do que as grandes empresas em tempo de crise, o que contraria a expectativa comummente criada. A crise económica e financeira que afetou Portugal, causou vários constrangimentos a nível macroeconómico.
O desempenho das Pequenas e Médias Empresas no período de crise atingiu, em média, os 160%, quando analisados indicadores como ativos totais das empresas, número de empregados, antiguidade, passivos totais, capital próprio, entre outras. Esta percentagem é superior à performance das grandes empresas, que atingiu os 102%, durante a crise que abalou Portugal, em 2008. Aquelas variáveis foram comparadas no período pré e pós crise financeira para as várias dimensões das empresas.
A conclusão é de Ana Marta Abreu, num estudo efetuado no âmbito do Mestrado em Economia Monetária, Bancária e Financeira, na Universidade do Minho.
“Observando os valores quer das empresas de grande dimensão, quer das PME, conseguimos concluir que o valor da performance é maior nas PME no período onde a crise esteve presente”, conclui a economista.
Ana Abreu analisou o comportamento de 5500 empresas da indústria têxtil do Norte de Portugal, entre 2007 e 2016, com o intuito de avaliar como a crise afetou o seu desempenho.
O setor têxtil representa cerca de 10% das exportações e 8% do volume de negócios da indústria transformadora.
Os resultados sugerem que “contrariamente às nossas expectativas são as empresas de menor dimensão, isto é, as PME, as que conseguem obter uma performance superior em períodos de crise”, revela o trabalho académico.
A idade das empresas é um dos fatores que a autora aponta para justificar este resultado. "Quanto mais anos a empresa operar no setor, menor é a sua performance”, refere, acrescentando que “além disso, à medida que a empresa vai envelhecendo, se os seus gestores não se adaptarem à inovação tecnológica, a empresa poderá não conseguir evoluir em conformidade com o mercado em que se insere”. Estes fatores podem contribuir para que, em situações de conjuntura económica, uma empresa mais antiga se torne mais vulnerável.
Em síntese, depreende-se do estudo realizado que as grandes empresas têm muito a aprender com as PME quando chega a altura de terem de se ajustar e reposicionar em períodos de crise. Num contexto em que se fala de voltarmos a um enquadramento mais desafiante para a economia portuguesa, fica assim no ar, a perspetiva de que as grandes empresas devem preparar-se para o período menos próspero que se avizinha, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI) e as projeções do Banco Central Europeu (BCE) conhecidas.
Dissertação publicada em Outubro de 2017, da autoria de Ana Marta Guise de Abreu, no âmbito do Mestrado em Economia Monetária, Bancária e Financeira, na Universidade do Minho: http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/49597