EDITORIAL

nBanks

April 5, 2025 11:00 AM

A revolução digital no setor bancário e a literacia financeira dos portugueses

Orlando Gomes da Costa é Licenciado em Gestão pela Universidade do Minho.

Começou a sua atividade profissional no Banco Português de Investimento (BPI) como Key Account Manager. Permaneceu no BPI por mais de 15 anos e foi acumulando várias posições: Investment Advisor; Investment & Sales Dynamization Adviser; Head of Procurement Management – Investment e Head of Procurement Management – Corporate Center.

Em 2018, juntamente com Ricardo Vieira e Nuno Oliveira, decidiu criar a nBanks, um software de gestão financeira com informação agregada, qualificada e independente, no qual integra serviços como Open Banking, Software as a Service (SaaS) e Banking as a Service (BaaS). Desde março de 2019, é CEO da nBanks.

Durante os mais de 20 anos de carreira profissional, acumulou algumas funções fora do mundo financeiro, tais como: Vice Presidente do Grupo Desportivo de Chaves e responsável pela parte de comunicação e marketing (2011-2014); e Editor de Economia no “Sinal TV”, um programa de televisão semanal (2013-2014).

Desde 2022, acumula também funções como professor convidado do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave (IPCA).

Fora do mundo financeiro, quem é o Orlando Costa? Quais são os seus gostos pessoais e que atividades lhe dão mais felicidade?

Posso admitir que sou uma pessoa comum igual a tantas outras… apaixonado por arte e cultura, encontro na leitura e no cinema formas de me inspirar e aprender constantemente. As viagens também ocupam um lugar especial na minha vida, pois valorizo a descoberta de novas culturas e experiências que me ajudam a ampliar os meus horizontes.

Além disso, prezo pelo equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Encontro grande felicidade em atividades que me conectam à natureza, como caminhadas e momentos ao ar livre, e valorizo o tempo com a família e amigos, que trazem leveza e autenticidade ao meu cotidiano. Essa dedicação ao bem-estar pessoal reflete-se na minha visão de que o sucesso não se mede apenas em resultados financeiros, mas também na capacidade de cultivar relações significativas e de desfrutar dos pequenos prazeres da vida. Para além disto e talvez como gostos mais particulares, adoro conduzir, tanto na estrada como em pista, com karts ou outros veículos. Adoro simuladores de condução. Adoro conversas em jeito de tertúlias. Filosofar. Participar em podcasts. Ler biografias inspiradoras, como de Winston Churchill. Ou de Steve Jobs. Enfim. Mas nada me inspira mais do que conversar e aprender a ver o mundo pelos olhos da minha filha. Aprender todos os dias e ao mesmo tempo viver como se fosse o último!

O seu percurso profissional começou no setor bancário e evoluiu para o empreendedorismo. O que o levou a dar este salto e criar a nBanks?

A criação da nBanks surgiu da necessidade de modernizar a forma como as empresas gerem as suas finanças, tirando partido do Open Banking. Após anos no setor bancário, tornou-se evidente que existia uma lacuna no mercado para uma solução que agregasse e simplificasse a gestão de múltiplas contas bancárias e dados financeiros, permitindo às empresas tomarem decisões mais informadas e estratégicas.

O que diferencia a nBanks de outras soluções financeiras no mercado?

A nBanks distingue-se pela sua abordagem inovadora da gestão financeira empresarial, integrando Open Banking, Software as a Service (SaaS) e Banking as a Service (BaaS) para oferecer um ecossistema completo de serviços financeiros. Ao invés de ser apenas um agregador bancário, permite automação de processos, reconciliação bancária eficiente e outras informações financeiras em tempo real, ajudando as empresas a otimizar o seu tempo e recursos.

Os custos de aquisição de clientes são um desafio para todas as fintechs. Como é que a nBanks consegue escalar o negócio sem depender de investimentos massivos em marketing?

A estratégia da nBanks aposta em parcerias estratégicas e na oferta de valor real para os clientes. Através de integrações com softwares e ERPs, conseguimos alcançar empresas que necessitam das nossas soluções. Além disso, a recomendação de clientes satisfeitos tem sido uma alavanca importante para o crescimento orgânico, assim como a ajuda dos nossos parceiros. Internamente, criámos a primeira equipa de Advisors em Open Banking & Financial AI do mundo, que está responsável por acompanhar a evolução do setor, assim como angariar novos clientes, contribuindo para o desenvolvimento de relações de confiança e criação de valor sustentável.

Com o crescente desenvolvimento de soluções financeiras digitais, como vê o papel da “banca tradicional” nesta tendência em Portugal? Será um cenário provável o seu desaparecimento ou esta será uma oportunidade para a banca se reinventar e apostar em novas estratégias?

A banca tradicional enfrenta um grande desafio, mas também uma enorme oportunidade de adaptação. A digitalização e o Open Banking obrigam a que os bancos se reinventem, oferecendo serviços mais ágeis e personalizados, que respondem às necessidades dos clientes. A tendência não aponta para o desaparecimento da banca tradicional, mas sim para um cenário de maior colaboração com fintechs, onde os bancos se tornam mais tecnológicos e focados na experiência do cliente. Estes passam a agir como intermediários e não detentores da informação.

Portugal tem atraído cada vez mais startups tecnológicas. O ambiente regulatório e financeiro já é favorável ao crescimento de fintechs como a nBanks?

Portugal tem feito progressos, mas ainda há um longo caminho a percorrer. O país tem um bom ecossistema de startups, bons talentos e incentivos fiscais interessantes, mas a burocracia e o tempo de resposta das entidades reguladoras ainda são desafios. Para empresas como fintechs, lidar com a legislação pode ser complicado, especialmente quando comparado com mercados mais ágeis. Ainda assim, iniciativas como a Fintech House, Portugal FinLab e hubs de inovação mostram que há um esforço para tornar o ambiente mais favorável. Se Portugal continuar a simplificar processos e a criar melhores condições para captar investimento, pode tornar-se uma verdadeira atração para fintechs na Europa.

Os portugueses tradicionalmente investem essencialmente em certificados de aforro, o que nem sequer lhes permite cobrir a inflação e conduz à perda de riqueza. Que produtos podem os portugueses investir, para ter uma almofada financeira na altura da sua reforma, principalmente numa fase em que vivemos numa grande preocupação relativamente ao futuro da Segurança Social?

Acredito que a diversificação é a chave para um investimento sustentável. Além dos certificados de aforro, os portugueses devem considerar outros investimentos que façam sentido na sua situação financeira. Existe uma grande variedade de produtos de investimento, entre os quais: ETF’s, Planos de Poupança Reforma (PPRs), obrigações, ações ou até mesmo alternativas como o imobiliário. Eu diria que a literacia financeira é essencial para que cada pessoa encontre a melhor estratégia para o seu perfil.

John C. Bogle, fundador da Vanguard, foi um acérrimo crítico do investimento em fundos de gestão ativa afirmando que a esmagadora maioria desses fundos não é capaz de sequer atingir o benchmark. Atualmente, a economia mundial assenta num sistema financeiro que inclui centenas de fundos de gestão ativa com triliões de Assets Under Management. Concorda com a posição de Bogle? Acredita que os produtos oferecidos por estes fundos são de péssima qualidade e enganam conscientemente os investidores?

Bogle defendia que a maioria dos fundos de gestão ativa não consegue superar o mercado a longo prazo e que os seus custos elevados acabam por prejudicar os investidores. Em muitos casos, isto é verdade, mas também existem fundos de gestão ativa que conseguem bons desempenhos e são justificáveis para certos perfis de investidor. No fundo, não se trata de dizer que um produto é melhor do que o outro ou que existe uma abordagem melhor que outra, mas sim de perceber que cada estratégia tem o seu espaço. Cada decisão de investimento deve ser adaptada aos objetivos, ao prazo e à tolerância ao risco de cada pessoa. Pessoalmente, sinto que o mais importante é que os investidores tenham acesso a informação clara para escolherem a estratégia ou produto que faz mais sentido para eles.

Com a existência das Prop Firms, o trading amador é uma atividade financeira com cada vez mais fãs. No entanto, as abordagens que têm existido, envolvem o pressuposto que existe manipulação do mercado. Considera que os mercados são efetivamente manipulados por algoritmos e Big Players, na procura da liquidez proveniente de traders retalhistas?

O mercado financeiro pode ser influenciado por algoritmos e instituições, mas isso não significa que seja manipulação no sentido ilegal. As grandes instituições utilizam tecnologia avançada para encontrar oportunidades e gerir risco, o que pode criar um ambiente desafiante para traders amadores. Ainda assim, a transparência regulatória tem evoluído para minimizar as práticas desleais, mas os investidores devem estar conscientes dos riscos.

Cada vez mais decisões financeiras são tomadas por algoritmos e inteligência artificial. Acha que a tecnologia pode substituir totalmente a análise humana na concessão de crédito e na gestão de risco?

A tecnologia e a inteligência artificial são ferramentas poderosas para tornar as decisões financeiras mais rápidas, precisas e informadas. Mas é importante lembrar que devem ser um meio, não um fim. A IA pode ajudar a analisar dados, identificar padrões e reduzir erros, mas há fatores que vão além dos números – como o contexto, a ética e o impacto real de uma decisão. Costumo pensar que o ideal é usarmos a tecnologia como fonte para melhores insights e apoiar as escolhas que fazemos, mas a decisão final deve continuar a ser humana. Afinal, há coisas que um algoritmo simplesmente não consegue interpretar como um humano.

Pode ler esta entrevista na integra aqui.