ARTIGOS

Orlando Gomes Costa

19/6/2019 15:54

Bem-vindos ao Open Banking

Open Banking e a transformação bancária


A entrada em vigor da nova Directiva Europeia “PSD2 (Payment Services Directive)”, que começou a ser aplicável a partir de 13 de janeiro de 2018, passou a permitir o tratamento dos dados das contas bancárias dos Clientes por parte de terceiros e não exclusivamente pelos Bancos como antes. Por inerência fez despoletar a introdução de um novo conceito mais alargado do próprio mercado bancário europeu: um ecossistema aberto e de fácil acesso para todos os clientes e todas as entidades.

Este conceito, designado de Open Banking, traduz assim um novo modelo de relação bancária, assente na partilha e transparência da informação, e no qual é inevitável a predisposição de colaboração entre instituições financeiras, fintechs e outras entidades, pois só deste modo poderão melhor ir de encontro e satisfazer as necessidades financeiras dos seus clientes.

Esta diretiva vem permitir um novo posicionamento do consumidor neste mercado, mais central e informado. Até aqui, o significativo desenvolvimento tecnológico das últimas décadas não foi acompanhado no mesmo ritmo em termos do conhecimento e comportamento dos consumidores, apesar da diversidade e multiplicidade da oferta, bem como do forte investimento de transformação tecnológica que a Banca fez a nível global.

Se é factual a forte aposta na transformação digital por parte das instituições financeiras para tornar a “jornada do cliente” nos serviços bancários mais facilitada e apelativa, também é verdade que não foi possível obter resultados satisfatórios na simplificação de linguagem e compreensão de produtos, bem como na sua contratualização. Assim, por regra, no mercado financeiro a informação inerente a produtos, serviços e os seus termos e condições, é algo complexa e bastante técnica, o que não permite uma interpretação rápida e direta dos produtos apresentados.

Acresce que, com uma oferta cada vez mais diversificada, os consumidores deste setor não possuem uma forma eficaz de comparar os produtos bancários existentes, à luz do que podem fazer noutras indústrias.

Embora ainda estejamos no início e no lançamento das bases do Open Banking, o princípio desta transformação é bastante simples, estando o mercado financeiro cada vez mais recetivo a mudanças em várias dimensões como a inovação, a segurança e a eficiência.

Com esta transformação, todos saem beneficiados: além das instituições financeiras de maior dimensão, incluem-se os bancos de menor dimensão, as fintechs e, claro está, os consumidores. Por outro lado, outros grandes nomes da indústria tecnológica, como as denominadas por “GAFAM – (Google, Amazon, Facebook, Apple e Microsoft)” poderão também tirar partido destas novas medidas, se souberem definir a estratégia correta.

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Em que se baseia o Open Banking?

A partir de 13 de janeiro de 2018, no espaço europeu, ficou assim definido a não exclusividade na retenção de informações relativas às contas dos seus clientes por parte das instituições bancárias, podendo estas informações serem cedidas a terceiros, habitualmente denominados por Third Party Providers (TPP), com o devido consentimento do utilizador/cliente. Deste modo, com esta abertura de tratamento de dados por parte de terceiros e estes por sua vez com o foco total em prestar serviços de informação personalizada, altamente suportada em software preparado para tratamento de dados em massa, passa assim a ser possível uma abertura de novos canais, a pulverização de ferramentas de “decision making” e de tratamento estatístico de grande precisão a favor dos utilizadores de serviços bancários.

Embora o processo de normalização deste novo protocolo de comunicação de informação bancária esteja ainda em curso, passa assim a ser natural aceder a plataformas virtuais com uma grande diversidade de produtos bancários, oriundos de várias instituições financeiras, e por inerência escolher os produtos mais relevantes para as necessidades financeiras actuais e futuras.  

Que novas entidades vão alterar a relação bancária tradicional?

Para além das novas fintechs e da transformação que as instituições financeiras vão ter de implementar por inerência, surgiram oficialmente dois novos tipos de fornecedores de serviços puramente tecnológicos no mercado financeiro, regulamentados pela autoridade bancária europeia. Assim, AISP (Account Information Service Provider) e PISP (Payment Initiation Service Provider) passam a ser os novos acrónimos a serem conhecidos no ecossistema financeiro europeu.

Tanto as AISP como as PISP, são entidades que foram criadas com base na segurança de forma a prestar este tipo de serviços exclusivamente através do consentimento do cliente.

Comecemos pelas AISP.
As AISP, consideradas as empresas que gerem e providenciam informação de contas bancárias, são entidades tecnológicas que estão autorizadas a recolher e armazenar informações das diversas contas bancárias de cada cliente, assim como validar a partilha destas mesmas informações com as instituições que escolher.

Passemos para as PISP.
As PISP ou também denominadas de provedoras de serviço de iniciação de pagamentos, são consideradas as entidades que vêm agilizar sobretudo os pagamentos online. Fazem assim a ligação direta entre a conta do cliente e a do comerciante, podendo consolidar o pagamento sem passar por nenhum intermediário.

Em suma, temos agora acesso a um novo modelo de relação bancária, desenvolvido a pensar no cliente, com novas oportunidades a surgirem por esse facto. De forma geral, assiste-se à diversificação de vários papéis dentro do mercado bancário e financeiro, reforçando-se os pilares da democratização de dados, com a segurança e confidencialidade obrigatórias, bem como à introdução da liberdade de escolha de uma forma mais assumida, fruto desta nova “biblioteca de dados” disponíveis para o utilizador.

Entre várias inovações, estas novas empresas podem então agregar a informação de todas as contas bancárias dos seus consumidores, assim como agregar informação dos produtos de várias instituições financeiras. Parece, portanto, inquestionável que a simplificação de processos habitualmente complexos de operacionalização bancária ganhará o seu espaço, o que, no ponto de vista das empresas e profissionais de negócios vai fazer poupar imenso tempo, promover eficiência e reforçar o foco estratégico na actividade “core” de cada empresa.

Outras inovações estão a aparecer e muitas mais virão fruto deste novo paradigma.

O Open Banking”, ou seja, o ecossistema bancário aberto, de fácil acesso veio para ficar e pelo que se denota uma forte predisposição para as actuais instituições financeiras também elas estarem receptivas e colaborar fortemente com “fintechs” como a nBanks e tantas outras para em última instância satisfazerem as necessidades financeiras dos seus clientes.

Ninguém sabe em bom rigor qual o “design” do futuro modelo bancário e financeiro que a legislação europeia está a gerar com a nova directiva PSD2 (Payment Service Directive).

Sabemos, porém, que os caminhos da transparência, da isenção e da informação partilhada ajudarão a trilhar o caminho certo para esse novo modelo.

Está agora nas nossas mãos fazer uso da tão necessária transformação bancária.

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